É um cantar que nasceu pelos corredores da fronteira, e há muito tempo é assim, andejar e andejar, distâncias que são encurtadas pelas patas de fletes, e relatadas aqui pelo linguajar próprio, de campo.

Aqui vamos relatar o que vivenciamos, sentimos e até os sonhos que nos rodeiam, a cada passo do flete destino de quando em quando firmamos os arreios do pensamento e paramos n'alguma porteira divisora de razões, daí que brotam as discussões, cada um defende suas origens, peleiam por algum ideal, mas não podemos esquecer de que andamos sempre "Compondo Rastros".

Cada um tem seu passado que cruzou, deixou "rastros", por isso temos que firmar a rédea do destino e seguir firme na estrada que escolhemos, é por aí o caminho que estamos "Compondo Rastros".


"Sou herdeiro dos caminhos,
Do rastro que me condena
Canto aqui as minhas penas
Colhidas por tantos pagos
Aroma de terra e pasto
Adoçado de sentimento
Que se mesclou aos ventos
Pra compor os meus rastros"



Carlitos da Cunha de Quadros

Santa Maria - 24/07/2010

Tempo Chuvoso


Radio Fronteira Gaúcha

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sábado, 11 de dezembro de 2010

Hoje foi mais que um dia...


                                                                                                                    FOTO: Guto Gonzalez
Hoje!...
Foi mais que um dia de campereada
Cheguei nas casa
Desencilhei, fiz um mate
Segui sorvendo e pensando...
Pensando de alma pesada

Hoje!...
Foi mais que um dia de campereada
Pois vi a vida enquadrada
Desde um extremo a outro
Vi dois cordeiros nascendo
E um terneirito morto

Quando sai de manhã
Soprava frio um ventito
E recorrendo eu e o Vitor
Se fomo até meio-dia
Mas notei que hoje - o dia –
Andava meio esquisito

A tarde empeçava morna
Voava alto a corvada
Era uma tarde nublada
Com jeito de viração
Que angustia o coração
Mas a gente não diz nada

Logo abaixo do rodeio
Vi dois cordeiros berrando
Pela ovelha chamando
Que ao tranco se ia embora
Por sorte foi bem na hora
Que eu ali ia cruzando

Talvez não ouvi-se os berros
Por causa do vento norte
Se ia extinguindo a sorte
Daqueles recém nascidos
Que mal os olhos abrindo
Já iam encarando a morte

Segui recorrendo o campo
Agora mais aliviado
Depois que os dois “bem mamado”
Iam ter força pra andar
Pra poderem acompanhar
A sua mãe no costado

Mas hoje!...
Foi mais que um dia de campereada
E lá na mangueira do meio
Tem umas vaca de ubre cheio
Já co`as teta bem inchada
Que tem que dá uma esgotada
Pra pode mamá os terneiro

Mas Bueno!...
Segui batendo meu basto
Nas cruz da minha tordilha
Quando avistei nas flexilha
Uma polianga deitada
Então fui dá uma chuliada
Recém tinha dado cria

Notei ainda do basto
Que o bichinho era doente
E aquela angústia de repente
No peito brotou ligero
E que a sorte dos cordeiros
Não andava mais co`a gente

Alcancei pro Paulo Sérgio
Que acomodou a terneira
Na cabeça das basteira
Levava a pobre agarrada
E eu com a vaca apartada
Em direção da mangueira

Botamo a vaca no tronco
Tiramo um pouco de leite
Fizemo mamá a doente
Pra vê se a “conchenca” salvava
Mas era pior do que pensava
Mal formada boca e dente...

No constatar o problema
A esperança ficô poca
Não tinha o céu da boca
Um buraco no lugar
E vimo que pra se salvar
Só tendo uma sorte loca

Mesmo assim... foi dado o leite
Por descargo de consciência
Mas digo pela experiência
Embora faça minha prece
Que a pobrezinha amanhece
Bem longe desta querência

Por isso, Hoje!...
Foi mais que um dia de campereada
Cheguei nas casa de alma pesada
Por ver a vida, bem enquadrada!
 Só pude olhar...

E fazer, nada!




Guto Gonzalez - Novembro de 2010
Júlio de Castilhos/RS

Um comentário:

  1. Ao ler a postagem acima saí da cadeira que estava sentado e me vi acomodado em meus bastos ..... de cima da gateada "Milonga" abri o portão da mangueira e saí ruma à invernada de cria da Estância da Praia. Senti o vento do lado castelhano balancear o capim-caninha e forçar o barbicacho do meu chapéu. Não me admira quem escreveu ..... mesmo sem saber vi que era alguém familiar. É um alento ler coisas da gente; escritas por gente da gente. E que tem a capacidade de nos transportar de volta para o lugar da gente. Abrazo tio Guto e mil gracias por essas palavras ......... hoje elas foram o munício pra um desgarrado.

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